EXPOSIÇÃO ZUZA

ZUZA HOMEM DE MELLO

(1933 -2020)

 

Zuza Homem de Mello, a quem Elis Regina gostava de chamar apenas de José Eduardo, seus primeiros nomes, deixou o Brasil nos anos 1950 para estudar música na School of Jazz, em Lenox, Massachusetts onde teve aulas com Ray Brown, lenda do contrabaixo e logo depois na prestigiada Juilliard School of Music, em Nova York, onde aprendeu, em suas palavras, “a ouvir música”. Continua ele: “Essa, acredito ser a grande meta da minha vida: fazer as pessoas saberem ouvir música”! Para ele, ouvir bem uma música, com tudo o que ela tem a oferecer, era um ato que poderia salvar um dia, uma história, uma vida.


Sua temporada em Nova York nos anos 50 foi quase uma predestinação. Sem que houvesse planejado, estava no lugar certo no momento exato. Duke Ellington, Thelonious Monk, John Coltrane, Ella Fitzgerald, Billie Holiday foram alguns dos muitos tops do Jazz que assistiu ao vivo, em clubes, em bares de hotéis, em teatros de Nova York.


Ao voltar ao Brasil, seguiu na música, porém já não mais como instrumentista, tocando contrabaixo pelos bares da noite em São Paulo, como fazia antes de sua vivência americana. Agora, lançava-se como técnico de som da TV Record, sempre com a preocupação de oferecer o som perfeito. Daí em diante Zuza foi crescendo profissionalmente e tornando-se mais e mais conhecido. “Fez o som”, como se dizia, de importantes programas como O Fino da Bossa, Jovem Guarda e Bossaudade.


Nos anos 1970, Zuza Homem de Mello dirigiu a série de shows “O Fino da Música”, no Anhembi (SP), quando reuniu atrações como o conjunto regional do violonista Canhoto, Elis Regina, Elizeth Cardoso e nomes que despontavam, como os de João Bosco, Ivan Lins e Alcione.


Em 1976, lançou pela Editora Melhoramentos o seu primeiro livro, Música popular brasileira cantada e contada, ao qual se seguiriam outros como os dois volumes de A canção no tempo (coautoria com o pesquisador Jairo Severiano, Editora 34, em 1997 e 1998), João Gilberto  (Publifolhas, 2001), A era dos festivais (Editora 34, 2003), Música nas veias: memórias e ensaios (Editora 34, 2007), Eis aqui os Bossa Nova (Editora Martins Fontes, 2008),  Música com Z (Editora 34, 2014), Copacabana: a trajetória do samba canção (Editora 34, 2017) e Amoroso, uma biografia de João Gilberto, lançado postumamente em 2021 pela Cia das Letras.


Com a experiência de quem viu muitos festivais de jazz no mundo e fez a ponte para muitos encontros de músicos estrangeiros com brasileiros, em 1978 Zuza trabalhou no I Festival Internacional de Jazz de São Paulo, uma parceria com o suíço Montreux, que trouxe à cidade nomes como Stan Getz, Dizzy Gillespie, Astor Piazzolla, Benny Carter e muitos outros. Ele seguiu na segunda edição do festival (em 1980) e, cinco anos mais tarde, no primeiro de muitos Free Jazz Festival, que aconteceram no Rio de Janeiro e São Paulo.


A grande capacidade de articulação e o espírito democrático de Zuza tornaram sua obra paradigmática tanto dos estudos acadêmicos quanto das memórias coletivas e individuais que envolvem a trajetória da música popular brasileira dos anos 1950 em diante. Isso porque Zuza tratava em pé de igualdade tanto temas reconhecidos da identidade musical do país (a canção, a bossa-nova e a MPB, por exemplo) quanto questões de gêneros musicais e tópicos bastante rarefeitos no campo artístico e memorial brasileiro (a música instrumental e o jazz brasileiro, entre outros).


Um documentário fica como registro do quanto o respeito a Zuza era poderoso, dentro e fora do país. Concebido por Ercília Lobo, com direção de Janaína Dalri, coordenação de conteúdo do próprio Zuza e realização do Canal Curta! o documentário Zuza Homem de Jazz, de 90 minutos, mostra-o em ação e como protagonista de uma vida de serviços à música. Busca seu passado nos Estados Unidos e encontra velhos amigos do jazz, como Bob Dorough, Gary Giddins, Steve Ross, Eric Comstock, Wynton Marsalis e Maria Schneider.


Zuza colaborou com a MdA international, em Sorocaba, durante 10 anos em diversos projetos culturais e encontros especiais que, como profundo conhecedor da música brasileira e do jazz, ele nos estimulava a fazer, criar e desenvolver. Foram 10 anos de farta e enriquecedora convivência profissional e pessoal!


O recente falecimento de Zuza Homem de Mello nos entristece imensamente. Este Festival de Jazz é dedicado a ele, como forma de eternizar sua obra, seu carisma e seu empenho pela arte e pela cultura brasileira. Este painel é a nossa humilde homenagem para que o legado de Zuza permaneça sempre vivo em nossa cultura e memória.

 

Obrigado por tudo, Zuza!

 

Texto de Marco de Almeida em colaboração com Renan Branco Ruiz

Revisado por Ercília Lobo.

Referencias: Jornal o Globo e O Estado de São Paulo.